quarta-feira, 27 de abril de 2011

LEITURA OBRIGATÓRIA



"Eu estou à venda", diz estilista Pierre Cardin em São Paulo
FERNANDA SCHIMIDT

Eu estou à venda. Não quero que minha marca morra comigo, quero passá-la adiante”, disse o estilista italiano Pierre Cardin durante coletiva de imprensa concedida na manhã desta terça-feira (26), no shopping Iguatemi em São Paulo. O encontro com jornalistas deu início às comemorações de 60 anos de sua grife, que incluem ainda desfile, exposição retrospectiva e palestra.

Aos 88 anos de idade, Pierre Cardin é o estilista mais velho na França atualmente - ele nasceu na Itália, mas mudou-se para França aos 2 anos. Estilista de vanguarda, Cardin passou pela alta-costura, introduziu a moda unissex e criou peças icônicas inspiradas pelo cosmos. Sua grife hoje dá nome a roupas femininas e masculinas, acessórios, bebidas e alimentos.

Foi no licenciamento de produtos e no prêt-à-porter (roupas para o dia a dia, compradas na pronta entrega) que o estilista achou o caminho para o sucesso. “Com a alta-costura, perdi dinheiro, e ganhei com o prêt-à-porter. Foi ele que me permitiu chegar às lojas de departamento, sobreviver e continuar minha criação”, disse Cardin. “A marca foi [expandida] para vários produtos, como chocolate, perfume e sardinha. As pessoas criticavam isso. Passei pela 2ª Guerra Mundial, então uma lata de sardinha vale mais para mim do que um perfume”, contou.

Seu lado empreendedor alcança outros ramos. Pierre Cardin é dono de quatro teatros, três revistas, uma fonte de água mineral, uma rede de restaurantes, barcos e, em breve, hotéis. “Gosto de trabalhar, não tiro férias, não saio. Meu prazer é o trabalho, é o que me dá equilíbrio”, disse durante a entrevista, alternando o francês e o italiano, com uma ou outra frase em inglês e um encerramento em espanhol.

Viajante assíduo, o estilista vê o turismo – seja ele de negócios ou não – como uma fonte de cultura e sabedoria. Na União Soviética da década de sessenta, por exemplo, explorou seu interesse pelo comunismo. “Como capitalista, sempre me interessei pelo comunismo, mas sabia que estava fadado ao insucesso. É bonito como filosofia, mas igualdade não existe. Sempre haverá melhores fotógrafos, jornalistas, costureiros”, disse. No Brasil esteve cerca de 15 vezes, em uma delas para as gravações do filme “Joana Francesa”, de Cacá Diegues. Cardin fez o figurino e atuou no longa de 1973.

Das 48 lojas que teve pelo mundo, o estilista mantém apenas três – em Paris, Taiwan e Tóquio. Seu foco agora são as multimarcas. Os produtos Pierre Cardin (15 no total e todos masculinos) são comercializados no Brasil há 28 anos, por meio de 800 pontos de venda. Nos planos para o país, está lançar até 2012 uma linha feminina voltada para mulheres executivas.

Apesar do interesse no futuro da marca, o estilista ainda não definiu seu sucessor. “Há muitas pessoas na minha equipe que estão lá há 30 anos e podem dar continuidade ao trabalho”, falou.

A exposição “Pierre Cardin – Criando Moda Revolucionando Costumes”, composta por 70 looks marcantes de sua trajetória, fica em cartaz de 29 de abril a 29 de maio, no shopping Iguatemi, em São Paulo. A entrada é gratuita.

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